(O lago Asfaltite) Vale a pena descrever, também, a natureza do lago Asfaltite. Ele é, como já disse, salgado e estéril; mas, em virtude de uma força descarregadora, a sua água faz boiar os objetos, mesmo muito pesados, que aí se lança, e não é fácil mergulhar muito fundo, mesmo esforçando-se. Quando Vespasiano se dirigiu lá para se informar, ordenou que se lançasse ao fundo, com as mãos ligadas atrás das costas, homens que não sabiam nadar; o resultado foi que todos boiaram como se um sopro de ar os tivesse puxado com força para cima. Há, além disso, a sua curiosa mudança de cor: 3 vezes por dia a sua superfície muda de aspeto e debaixo dos raios do sol ela cintila com mil cores. Em bastantes lugares, este lago rejeita blocos negros de betume; enquanto nadam, a sua forma e as suas dimensões fazem-nos parecer touros sem cabeça. Os trabalhadores que trabalham no lago fazem avançar as suas barcas, retiram este betume coagulado e içam-no a bordo. Uma vez embarcada a massa, não é fácil destacá-la do barco, porque, por causa da sua viscosidade, ela adere a ele com todas as suas fibras enquanto não se destaca com ajuda de sangue menstrual e de urina de mulheres, únicos meios aos quais cede. (1) O betume serve não só para calafetagem dos barcos, mas também em medicina. O que é certo é que ele entra na composição de um grande número de medicamentos. O comprimento deste lago é de 580 estádios e estende-se assim até à cidade da Arábia, Zoara; a sua largura é de 150 estádios. (2) Na sua vizinhança encontra-se a região de Sodoma, (3) território outrora próspero pelas suas colheitas e pela riqueza das suas diversas cidades, mas agora inteiramente queimado. Diz-se que a impiedade dos seus habitantes lhes valeu serem abrasados pelo raio. Em todo o caso, ainda lá existem traços do fogo divino e podem ser vistos os vestígios de cinco cidades e, além disso, nos frutos uma cinza que reaparece: estes frutos são de uma cor semelhante à dos frutos comestíveis, mas, no momento em que a mão os colhe, reduzem-se a fumo e a cinza. A narração lendária sobre a região de Sodoma é assim confirmada por aquilo que se vê. (B. J. IV, 476 - 485) 1) Tácito é mais racionalista (Vide). 2) Na realidade, o Mar Morto atinge 85 km de comprimento por 15,7 km de largura. O nível das suas águas encontra-se a 390 m abaixo do nível do mar e o seu fundo a 788 m desse mesmo nível. É o local mais baixo do planeta. As suas águas têm 25 % de sal, 6 vezes mais que as dos oceanos. 3) Gn 19, 1-30. Para uns, Sodoma e Gomorra estariam situadas no lugar que agora é ocupado pela parte meridional do Mar Morto, a qual teria sido formada por abaixamento do solo, e que atinge de 1 a 10 m de profundidade (ao contrário da parte setentrional, que mede de 300 a 400 m de profundidade). Para outros, Sodoma seria identificada com as ruínas de Bab Edh Dhra, e Gomorra com as ruínas de Numeira. A primeira hipótese parece, no entanto, já estar abandonada. Por outro lado, ele não se limitou a ligar o nome e a recordação deles a edifícios: a sua generosidade espalhou-se na criação de cidades inteiras. Assim, na região da Samaria (1), ele construiu uma cidade que ele cercou de uma magnífica muralha com 20 estádios de comprimento. Instalou lá 6 000 colonos, atribuiu-lhes um território muito fértil e, no centro desta fundação, fez elevar um templo de grandíssimas dimensões, tendo em volta, com um estádio e meio de comprimento, um períbolo sagrado dedicado a César. Deu à cidade o nome de Sebaste e outorgou aos seus habitante uma lei privilegiada. (B. J. I, 403) 1) Destruída por Hircano (A. J. 13, 254 - 258), foi reconstruída por Gabínio. Subsistem, ainda, vestígios do templo elevado por Herodes em honra de Octaviano que tinha recebido do senado o título de Augusto (janeiro de 27). Fortalezas de Herodes. Reconstrução da Samaria - Sebaste Dirigia já a cidade (de Jerusalém) pelo palácio onde habitava e o templo pela fortaleza chamada Antónia, que fora construída por ele. Lembrou-se de fazer da Samaria uma terceira muralha contra a população inteira. Deu-lhe o nome de Sebaste e pensou que este lugar lhe poderia servir de fortaleza contra a região tão utilmente como as outras. Fortificou, pois, este pequeno burgo, distante de Jerusalém um dia de caminho, e tão bem localizado para manter com respeito tanto a capital como o campo. Para a defesa do reino inteiro, ergueu a fortaleza chamada outrora Torre de Estratão, à qual deu o nome de Cesareia. Na grande planície, na fronteira da Galileia, fundou uma colónia militar povoada de cavaleiros de elite da sua guarda, chamada Gaba. Colonizou, igualmente, o território de Hesbon, na Pereia. Estas fundações fizeram-se sucessivamente; assim, pouco a pouco, vigiava a sua segurança, encerrando o povo num cinto de praças fortes, para lhe retirar, o mais possível, toda a facilidade de se deixar arrastar para perturbações, como tinha hábito à mínima agitação, e fazer-lhe compreender que, na primeira tentativa de revolta, haveria sempre, nas proximidades, tropas capazes de ter conhecimento dela e de a reprimir. (...) Desejoso de fortificar a Samaria, ocupou se de lhe dar uma população, composta por muitos dos seus antigos companheiros de armas e de numerosos habitantes dos territórios vizinhos. A sua ambição era de aí elevar um templo e, graças a ele, dar importância a uma cidade que antes não tinha; mas sobretudo queria assegurar a sua segurança pela magnificência. Mudou o nome da cidade e chamou-lhe Sebaste; distribuiu o território vizinho, cujas terras eram excelentes, aos colonos, a fim de que, logo que chegassem, se encontrassem já prósperas; cercou a cidade com uma forte muralha, utilizando para defesa a situação escarpada do lugar, e traçando uma cerca, não da dimensão da antiga, mas tal que não fosse nada inferior à das cidades mais famosas: tinha, com efeito, 20 estádios. No interior, no meio da cidade, traçou um períbolo sagrado de estádio e meio, ornado com muito esmero, e no qual elevou um templo igualando os mais célebres pelas suas dimensões e pela sua beleza. Pouco a pouco, prodigalizou embelezamentos na cidade, considerando, por um lado as necessidades da sua defesa pessoal e fazendo deste lugar pela solidez da sua muralha uma fortaleza de primeira ordem, desejoso, por outro lado, de passar por amar as coisas belas e de passar à posteridade monumentos da sua munificência. (A. J. XV, Cap. VIII, 5) A província da Samaria é situada entre a Galileia e a Judeia. Começa, com efeito, na Grande Planície, na aldeia chamada Genea (1) e acaba na toparquia de Acrabatene. (2) Do ponto de vista das características naturais, não difere em nada da Judeia. Uma e outra, com efeito, comportam montanhas e planícies, têm uma terra arável para a agricultura, são férteis, arborizadas, regurgitam tanto frutos de montanha como frutos cultivados. Quase em nenhuma parte são naturalmente sujeitas à seca; pelo contrário, recebem chuvas abundantes. A água tem, por todo o lado, um sabor delicado e a abundância de excelentes pastagens faz que os rebanhos deem mais leito do que noutros lados. A melhor prova, em todo o caso, da sua excelência e da sua prosperidade é a densidade da sua respetiva população. Na fronteira dos dois países encontra-se a aldeia chamada Anuat Borceos. (3) Constitui o limite setentrional da Judeia, cuja fronteira meridional, medindo o país no seu comprimento, é constituída por uma aldeia confinando com a fronteira do Árabes e que os Judeus do sítio chamam Jardan. (4) Em largura, a Judeia desdobra-se do rio Jordão a Jope. A cidade de Jerusalém fica situada exatamente no centro. É por isso que alguns chamam, não sem razão, a esta cidade o umbigo do país. (5) A Judeia também não é privada das vantagens do mar, já que se prolonga no litoral até Ptolemaide. (6) Divide-se em onze toparquias; à cabeça a circunscrição régia de Jerusalém, que domina todo o país circundante, tal como a cabeça domina o corpo. As outras cidades, depois dela, partilham entre si as diferentes toparquias: Gofna na segunda fila; depois dela, Acrabeta; Tamna; após as quais, Lida, Emaús, depois Pela, Idumeia, Engadi, Heródion e Jericó; em seguida, Jâmnia e Jope, que governam as localidades circundantes; depois a Gamalítica, a Gaulanítide, a Bataneia e a Traconítide, que são, além disso, as divisões do reino de Agripa. (B. J. III, 48 - 56) 1) Genea é atualmente identificada com Dschenin, a sul da grande Planície de Esdrelon. 2) Acrabatene - a SE de Siquém-Napluse, 3) Anuat Borceos - atualmente 'Ain-Berkit, a 19 km a sul de Napluse. 4) Jardan - talvez Tell-Arad, a 30 km a sul de Hebron e a oeste de Masada. 5) A ideia de que Jerusalém é o centro do mundo baseia-se, possivelmente, em Ez 38, 12. É um motivo típico dos mapas medievais. 6) Politicamente, a Judeia não chegava ao litoral. Em suma, mesmo reconhecendo que a Galileia é inferior em extensão à Pereia, (1) será preferível a esta última pelos seus recursos, porque está toda inteira em exploração e por todo o lado igualmente fértil, enquanto a Pereia, bem mais vasta, é na maior parte deserta e pedregosa, demasiado selvagem para lá fazer prosperar frutos cultivados (no entanto, onde a terra é móvel, é muito fértil; as suas planícies são plantadas com árvores diversas; cultiva-se lá sobretudo a oliveira, a vinha e a palmeira). É regada pelas torrentes que descem das montanhas e pelas fontes perenes, que chegam no caso de que estas torrentes serem secas pela canícula. O seu comprimento estende-se de Maqueronte (2) até Pela; a sua largura, de Filadélfia ao Jordão. A norte, é limitado por Pela, (...) e a Nascente pelo Jordão. A sua fronteira meridional é o país de Moab. A oriente, é limitada pela Arábia e pela Hesbonítide, (3) e depois por Filadélfia e Gerasa. (B. J. III, 44 - 47) 1) Afirmação inexata. 2) Maqueronte ainda faz parte da Pereia. Pela e Filadélfia já fazem parte da Decápole. 3) O território de Hesbon. A natureza dos lugares era muito própria para inspirar toda a confiança nos ocupantes, como hesitação e medo aos assaltantes. A parte cercada de muros é um cume rochoso, elevando-se a uma altura considerável e por isso de um acesso difícil. A este obstáculo acrescentavam-se os que a natureza tinha multiplicado, porque a colina é de todas as partes cercada de ravinas, verdadeiros abismos insondáveis à vista, difíceis de atravessar e que é impossível preencher em nenhum ponto. O vale lateral, face ao Ocidente, estende-se num comprimento de 60 estádios e tem como limite o lago Asphaltite; é nesta direção que o próprio Maqueronte ergue o seu cume dominante. Os vales a norte e a sul, embora inferiores em profundidade ao precedente, estão igualmente defendidos contra qualquer ataque. Constata-se que o do Oriente não se fixa em menos de 100 côvados; é delimitado por uma montanha que se ergue face a Maqueronte. Impressionado pela forte localização deste lugar, Alexandre, rei dos Judeus, foi o primeiro que lá construiu uma fortaleza; mais tarde, Gabínio tomou-a na guerra contra Aristóbulo. Mas, quando Herodes foi rei, julgou que este lugar merecia mais que nenhum outro os seus cuidados e a construção de obras sólidas, sobretudo por causa da proximidade dos Árabes, porque está virada muito vantajosamente para o seu território. Cercou, pois, de muralhas e de torres um vasto espaço e construiu lá uma cidade com um caminho subindo em direção ao cimo do cume. Sobre a altura, em torno do próprio cimo, construiu uma muralha, defendida nos ângulos por torres elevando-se cada uma a 60 côvados. No meio da cerca, construiu um palácio magnífico pela sua grandeza e a beleza dos seus apartamentos: arranjou lá, para receber a água da chuva e a fornecer em abundância, numerosos reservatórios nos lugares mais apropriados; pareceu, assim, rivalizar com a natureza, esforçando-se por ultrapassar, por fortificações elevadas pela mão do homem, a força inexpugnável de que tinha sido dotada esta posição. Colocou lá também uma grande quantidade de armas e de máquinas, e não esqueceu nenhum preparativo que pudesse permitir aos habitantes aguentar o mais longo assédio. Uma planta chamada arruda, de um tamanho espantoso, brotara no palácio; não era inferior a nenhuma figueira, nem na altura nem na espessura. Contava-se que existia lá desde o tempo de Herodes, e teria talvez durado ainda muito tempo se não tivesse sido cortada pelos Judeus que ocuparam este lugar. No vale que cerca a cidade do lado norte, há um sítio chamado Baaras, que produz uma raiz do mesmo nome. Esta planta é de uma cor parecida com a do fogo. À noite, os raios que emite sobre os que avançam para a apanhar tornam a colheita difícil; ela esconde-se, todavia, às capturas e não para de mexer senão se se espalhar sobre ela urina de mulher ou sangue menstrual. Mesmo então, o que a tocar arrisca a morte imediata, a não ser traga suspenso da sua mão um bocado desta raiz. Apanha-se, ainda, sem perigo por um outro processo, que é assim: cava-se o solo em torno da planta, de modo que uma porção muito fraca continue ainda enterrada; depois ata-se-lhe um cão, e enquanto este lança para seguir o homem que o atou, esta parte da raiz é facilmente extraída; mas o cão morre imediatamente, como se desse a sua vida em vez do que devia retirar a planta. De facto, quando se a apanhou, depois desta operação, não se tem nada a temer. Apesar de tantos perigos, é procurada por uma propriedade que a torna preciosa: os seres chamados demónios - espíritos dos homens maus que entram no corpo dos vivos e podem matá-los quando estes têm falta de socorro - são rapidamente expulsos por esta raiz, mesmo se se contentar em aproximá-la dos doentes. (1) 1) O caráter lendário é mais que evidente. Neste lugar, correm também fontes de águas quentes muito diferentes no gosto, porque algumas são amargas, as outras perfeitamente doces. Há, também, numerosas fontes frias, alinhadas paralelamente no terreno mais baixo, mas - coisa mais espantosa - vê-se na vizinhança uma caverna, de profundidade média e recoberta por um rochedo que desalinha; na parte superior deste rochedo saem como que duas mamas, pouco afastadas uma da outra, das quais uma deita uma água muito fria e a outra uma água muito quente; a mistura destas duas fontes produz um banho muito agradável e eficaz contra as doenças, particularmente as dos nervos. Esta região possui, além disso, minas de enxofre e de alumínio. (B. J. VII, Cap. VI , 1 - 3)
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