A descrição que Flávio Josefo faz do templo e do palácio de Salomão é fantasista e anacrónica. Vale, porém, por aquilo em que pode ajudar a compreender e completar as suas descrições relativas ao século I. (A. J) O rei lançou as fundações do templo a uma profundidade muito grande debaixo da terra, em pedras de uma matéria sólida e capaz de resistir ao tempo que, sendo incorporadas na terra, pudessem servir de pedestal e de base para todas as superestruturas, e, graças à força de baixo, suportar facilmente a massa dos edifícios superiores e a magnificência dos ornamentos. Pelo seu peso, estas fundações rivalizavam, admitamos, com o resto dos aparelhos projetados para tornar o edifício alto e amplo e, ao mesmo tempo, belo e grandioso. O edifício foi elevado até ao teto em mármore branco. A altura era de 60 côvados, o mesmo em comprimento, e a largura de 20 [côvados]. Sobre este primeiro andar erguia-se um segundo com as mesmas dimensões, de modo que a altura total do templo era de 120 côvados. Ele estava voltado para o leste. Diante, erguia-se o pórtico: media 20 côvados de comprimento, correspondendo à largura do edifício, com 10 côvados de largura, e elevava-se a 120 côvados de altura. Então o rei construiu ao redor do templo 30 pequenas câmaras que deveriam, graças à sua constrição e ao seu número, formar uma cerca externa contínua. Além disso, ele organizou as entradas de forma que houvesse acesso de uma para a outra. Cada uma destas câmaras media 5 côvados de largura, outro tanto de comprimento e 20 de altura. Sobre elas, havia outros compartimentos e ainda outros sobre estes, do mesmo tamanho e número, de modo que no total tinham a mesma altura [de 60 côvados] do edifício principal; porque o andar superior deste não era cercado de câmaras. Todo o edifício tinha um teto de cedro. Cada câmara tinha o seu próprio teto, sem ligação às vizinhas. Todo o resto do templo tinha um teto comum construído com vigas muito longas que atravessavam todas as partes (?), de modo que as paredes intermediárias eram mantidas juntas pelas mesmas peças de madeira, o que reforçava a sua solidez. Quanto ao forro sob as vigas do teto, ele o fez do mesmo material, escavado para formar caixotões e receber aplicações de ouro. As paredes, guarnecidas com madeira de cedro, também foram incrustadas de ouro, de modo que todo o templo cintilava, e os olhos de quem entrava eram ofuscados pelo brilho do ouro espalhado por todos os lados. Toda a construção do templo foi feita com muita arte, por meio de pedras polidas, juntas com tal precisão e tão bem niveladas que nenhum vestígio de martelo ou de outro utensílio arquitetónico aparecia ao olhar. Parecia que, sem a intervenção de instrumentos, todos os materiais se tinham ajustado de forma congruente uns aos outros e que as partes tinham regulado a sua harmonia por elas, mais do que sob a coerção do trabalhador. O rei arranjou uma escada na espessura da parede para subir até ao andar de cima, pois este andar não tinha uma grande porta a leste como o de baixo: era pelos lados que aí se tinha acesso por meio de portas muito pequenas. Guarneceu, ainda, o templo, tanto interior como exterior, com grandes tábuas de cedro ligadas por grossas correntes, para servir de adereços e reforços. Tendo dividido o templo em dois vãos, ele fez da sala interna, de 20 côvados de comprimento, o Santo dos Santos (o Inacessível), e a outra, de 40 côvados, ele designou-a de Santuário. Fez uma abertura na parede divisória e colocou lá portas de cedro, que adornou com muito ouro e vários embutidos. Estendeu estas portas com véus sumptuosamente floridos de jacinto, púrpura e escarlate, feitos de bisso brilhante e macio. Então ele colocou no Santo dos Santos, com 20 côvados de largura e o mesmo de comprimento, 2 querubins todos de ouro, tendo cada um 5 côvados de altura, e cada um provido de 2 asas de 5 côvados de largura. É por isso que ele os colocou a uma curta distância um do outro, de modo que uma das asas tocasse a parede sul do Santo dos Santos e a outra a parede norte, enquanto as asas interiores, em contato uma com a outra, abrigavam a arca erguida entre os dois. Quanto aos Querubins, ninguém pode dizer ou imaginar que tipo de figura eles apresentavam. Ele também revestiu o pavimento do templo com lâminas de ouro e adaptou ao pilão do templo portas de uma altura proporcionada à da parede, com uma largura de 20 côvados, que ele guarneceu de ouro. Em suma, não deixou nenhuma parte do templo, nem no interior nem no exterior, que não brilhasse com ouro. Nestas portas externas foram pendurados véus semelhantes aos das portas interiores. Mas a porta do pronaos não tinha nada de semelhante. […] Este Hiram também fez duas colunas de bronze, cujo metal tinha 4 dedos de espessura. A altura destas colunas era de 18 côvados, e a sua circunferência, de 12 côvados. No topo de cada coluna, colocou um [capitel] de ferro fundido em forma de lírio, de 5 côvados de altura, em torno do qual foi colocada uma rede toda trançada com palmas de bronze envolvendo os lírios. Desta rede pendiam, em duas fileiras, 200 romãs. Colocou uma destas colunas contra a asa direita do vestíbulo, e chamou-a de Jaquin, e a outra à esquerda, sob o nome de Booz. […] Também fez um altar de cobre, de 20 côvados de comprimento, o mesmo de largura, e 10 de altura, para os holocaustos. […] Salomão preparou todas estas coisas para a glória de Deus com sumptuosidade e magnificência; longe de poupar qualquer despesa, ele demonstrou a maior largueza em adornar o templo e encerrou estes objetos nos tesouros de Deus. Além disso, ele cercou o templo com um recinto chamado «gession» («gis») na língua do país e «thrinkos» (muro do recinto) em grego; elevava-se a uma altura de 3 côvados. Tinha o objetivo de proibir à multidão o acesso ao santuário e indicava que estava aberto apenas para os sacerdotes. Fora deste recinto construiu um santuário de forma quadrangular, munido de grandes e largos pórticos que se abriam com altas portas, orientadas para as quatro direções dos ventos e fechadas por batentes de ouro. Todas as pessoas do povo tinham acesso a este edifício, com a condição de estarem puras e obedecerem às leis. Por fim, uma maravilha desafiando toda a descrição e, por assim dizer, todo o olhar, era o [terceiro] santuário, exterior aos 2 anteriores. Salomão, com efeito, preencheu grandes ravinas onde o olhar tinha dificuldade em mergulhar, tão grande era a sua profundidade, e, tendo-as nivelado a uma altura de 400 côvados, deu ao terreno a mesma elevação que o topo da montanha sobre a qual se elevava o templo. E foi assim que o santuário exterior, que era hipetro (sem teto), estava à mesma altura do templo. Cercou-o com pórticos duplos com altas colunas de pedras retiradas dos lugares. Estes pórticos tinham tetos com lambris de cedro. Quanto às portas deste santuário, ele fê-las todas em prata. (A. J. III, 2-9)
(A. J) Havia primeiramente um edifício vasto e magnífico, solidamente sustentado por numerosas colunas, organizado para receber uma grande população atraída pelos julgamentos civis e criminais a decidir e para abrigar a multidão de litigantes. Este edifício media 100 côvados de comprimento, 50 de largura e 30 de altura; repousava sobre pilares quadrangulares, todos em madeira de cedro, tinha uma cornija de ordem coríntia, portas quadradas e janelas de três pontas (?) que garantiam simultaneamente a sua solidez e a sua beleza. Vinha, em seguida, um outro edifício, no meio da plataforma (?), de que ocupava todo o comprimento [de 50 côvados e] com uma largura de 30 côvados. Era precedido de um pórtico (?) sustentado por grossas colunas. Lá, encontrava-se uma sala do trono magnífica, onde o rei se sentava para fazer justiça. Ao lado, um terceiro palácio que servia para a rainha, e outros locais destinados às refeições e aos prazeres, uma vez despachados os assuntos. Todos eram pavimentados com tábuas cortadas de madeira de cedro. As fundações (?) eram de pedras de 10 côvados de lado. As paredes eram revestidas de uma outra pedra mais preciosa, cortada com serra, que se extrai para enfeitar os templos e os palácios reais, da terra de Bethoron (?), ilustrada pelos lugares que a escondem. Este revestimento sumptuoso formava 3 faixas sobrepostas; na quarta brilhava a arte dos escultores: representaram ali árvores, várias plantas, cujos ramos e folhas pendentes espalhavam a sombra, tão leves que se pensaria vê-los agitar e esconder a pedra que estava em baixo. O resto da parede, até ao teto, era recoberto de gesso iluminado com cores vivas. O rei também mandou construir outros aposentos de lazer e enormes pórticos felizmente localizados no palácio real. No meio destes pórticos, erguia-se um pavilhão esplêndido, pingando de ouro, para vir lá festejar e beber. Todos os utensílios necessários para tratar os seus convidados eram feitos de ouro. É difícil contar o tamanho e a variedade dos aposentos reais, quantas salas grandes, quantos aposentos pequenos, câmaras subterrâneas e invisíveis, a beleza dos terraços ao ar livre, bosques organizados para o encanto dos olhos, refúgio e proteção dos corpos contra o calor. Em resumo, toda a construção era de mármore branco, de cedro, de ouro e de prata; as coberturas e as paredes adornadas com pedras incrustadas de ouro, como tinha sido feito para o templo de Deus. O rei também mandou esculpir em marfim um trono colossal em forma de estrado, provido de 6 degraus, em cada um dos quais estavam 2 leões de cada lado, e havia outros 2 em cima. Encaixados no trono, 2 braços avançavam como para receber o rei: ele apoiava-se sobre um «protomé» de touro que o olhava por trás; tudo estava fixado com laços de ouro. (A. J. V, 2)
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