O reino dos homens é semelhante a um homem chamado Estado, que, ansioso por dominar, domesticou um grande número de animais, dizendo pretender criar uma sociedade e uma cultura cientificamente evoluídas, em que ele resolvesse todos os problemas dos animais, controlando todos os aspetos da vida deles. Aconteceu, porém, que, sendo escassos os bens terrenos e não sendo produtiva a sua recolha de animais, o Estado deixou de ter recursos para os alimentar. Não queria abdicar da alimentação dele para alimentar os animais, mas também sabia que, se abdicasse dela para os alimentar, não teria recursos para muito tempo. Não querendo, de nenhum modo, uma revolução dos animais nem o consequente triunfo dos porcos, pensou: «Que farei? Não abdicarei dos meus animais. Deixá-los-ei morrer à fome. Reforçarei os muros de vedação, para impedir qualquer fuga; porei os animais mais corpulentos a exercerem trabalhos forçados; e matarei os animais dos queixumes ruidosos, para que nada se saiba no exterior. Por fora, farei bela propaganda de que todos os meus animais são bem tratados e de que não poderiam estar melhor! — O pior é se algum dia se descobre a verdade, ainda que seja só depois da minha morte… Serei, então, acusado de ditador genocida pelo tribunal da História! Em vez disto, que me resta fazer? Soltarei os animais e deixá-los-ei regressar ao modo de vida que tinham antes, mesmo sabendo que isso lhes vai custar por dele já estarem desabituados. Abrirei as jaulas, para que possam emigrar, e liberalizarei os despedimentos. — Sei que ficarei imediatamente muito impopular por não cuidar dos animais... Erguer-se-ão os tumultos das turbas seduzidas, e até me porão a alcunha de Neoliberal!» | |||
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