Dubitando, ad veritatem parvenimus... aliquando! Duvidando, chegamos à verdade... às vezes!
 
Método científico e ideologia cientificista

Alla panta metrô kai arithmô kai stathmô dietaxas.
Sed omnia [in] mensura et numero et pondere disposuisti.
Mas dispuseste tudo com medida, número e peso.
(Sb 11, 20)

Em grande parte devido à reflexão escolástica sobre este versículo, foi criado o moderno «método científico».

Para procurar a verdade das coisas, precisamos, primeiramente, de saber que a verdade existe e que o mundo obedece a uma ordem estabelecida.

O versículo dirige-se a Deus, o criador da verdade e do universo mensurável. Só num universo organizado se pode medir, contar e pesar, pressupondo sempre que a verdade existe e que existe, também, o objeto estudado. Se o universo fosse caótico, não adiantaria procurar nele leis científicas.

A análise do que é material porque tem «medida, número e peso» não prova a inexistência de tudo o que não é material. O materialismo ontológico é um total absurdo. Nunca ninguém conseguiu provar que só existe o que pode ser medido, contado e pesado. Também continuam a fracassar as tentativas de provar que tudo o que não é material é causado pela matéria. É uma contradição afirmar que só existe o que é material e que todo o resto é causado pela matéria, pois é admitir que só existe a matéria e admitir, ao mesmo tempo, que existe mais alguma coisa. Como se isto não bastasse, a própria matéria já se apresenta suficientemente misteriosa, se buscarmos a fundo saber o que ela é. Considerar que só deve ser levado em conta o que é material e recusar todo o resto, é uma recusa voluntária da verdade. É um preconceito, uma ideologia, pois, em vez de ser uma honesta busca da verdade, é uma tentativa de adaptar a realidade às ideias de quem assim pensa. O materialismo é uma crença, que se opõe às outras. O próprio conceito de ciência é filosófico ou ideológico. Antes de definir o que deve ser considerado científico ou não, são definidos os critérios para tal.

A ideologia de que só deve ser levado em conta o que é material e excluir tudo o resto recusa a busca da verdade, mas não se contenta com a desonestidade intelectual. Nessa situação, em vez de o sujeito adequar as suas ideias à realidade do objeto, procura adaptar a realidade às suas ideias. Em vez de procurar entender o mundo, o materialista procura transformá-lo. Procura dominá-lo, transformando-o segundo os seus critérios, para o que é necessário negar, a priori, toda a transcendência, para evitar sentir remorsos. É assim que a ideologia cientificista gera as maiores tiranias da História. Para poder livremente dominar os outros, é indispensável negar a existência de Deus, da vida após a morte e de qualquer direito divino.

Os grandes totalitarismos contemporâneos resultam da aplicação da ideologia cientificista, que nada mais é do que uma falsa ciência ao serviço da descontrolada busca de poder. Ainda que nem sempre chegue a tais extremos, o pensamento contemporâneo é, com frequência, mais uma busca de dominação do que uma busca da verdade: é a busca da fama, do prestígio ou da influência através de trabalhos «científicos» e filosóficos. É indispensável saber quando se trata de ciência honesta ou de charlatanismo.

O materialista não pode provar a veracidade do total materialismo, nem de que tudo o resto é causado pelas interações da matéria. É uma recusa voluntária, por conveniência. Poderia, no entanto, assumir uma posição de dúvida. Mas uma posição agnóstica cai no mesmo problema: é afirmar que existe uma realidade que não pode ser conhecida e que é inútil procurar conhecê-la. Por isso, ser ateu e agnóstico não é incompatível, pois, em ambos os casos se nega, voluntariamente, a busca da verdade.

A ideologia cientificista, o materialismo e o agnosticismo, em vez de resultarem da honesta busca da verdade, são meras tentativas de justificação para uma conduta imoral.

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DVBITANDO, AD VERITATEM PARVENIMVS... ALIQVANDO!
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