Dubitando, ad veritatem parvenimus... aliquando! Duvidando, chegamos à verdade... às vezes!
 
A extrema gravidade do nazismo juvenil («bullying»)

(Eliseu passou pela cidade de Jericó, situada na planície do rio Jordão.)

E subiu dali a Betel. E, subindo ele pelo caminho, uns rapazes pequenos saíram da cidade, e troçavam dele, dizendo: «Sobe, careca! Sobe, careca!»

E, virando-se ele para trás, viu-os, e amaldiçoou-os em nome de Yahwéh.

Então duas ursas saíram do bosque, e despedaçaram quarenta e dois rapazes.

E foi dali para o monte Carmelo, de onde voltou para a Samaria. (2Rs 2, 23-25)


A comunicação social portuguesa divulgou as notícias de um rapazinho e de um professor que, desesperados de tanto sofrer de nazismo juvenil (mais conhecido como «bullying»), puseram fim à sua vida neste mundo. Acreditamos que os agressores, protegidos pela previsível e consequente impunidade, ficaram contentíssimos por terem conseguido vencer as suas desafortunadas vítimas!

Estas vítimas fazem parte de um número demasiadamente elevado que sofre em silêncio, vendo que a sociedade e as leis estão do lado dos agressores. A notícia de um ladrão diário e incorrigível, apenas de 14 anos de idade, cujos pais, em vão, tentam que o tribunal mande internar, mostra bem de que lado estão a sociedade e as leis.

A prática do nazismo juvenil não é recente. Nos tempos bíblicos, já havia a tal ruindade personificada em jovens que sentem indescritíveis delícias em fazer sofrer impunemente as suas vítimas, principalmente quando as veem mais fragilizadas e indefesas.

De acordo com a narração bíblica, o profeta Eliseu (séc. IX - VIII a. C.) foi vítima de nazismo juvenil, e, em vez de se suicidar de desespero, foram os agressores que sofreram as consequências dos atos deles. Tratou-se de nazismo juvenil verbal praticado por um grupo de rapazes, consistindo no achincalhamento, usando a calúnia e o atentado ao bom nome. Os estudos neuropsicológicos revelam quanto essas ofensas deixam marcas indeléveis no cérebro.

O profeta Eliseu vivia no tempo dos reis de Judá e de Israel. Maioritariamente, estes não pareciam preocupados com a segurança e a educação do povo, mas com ganâncias pessoais e políticas e com a crendice nos deuses que estavam na moda. Se alguns jovens eram agressores de nazismo juvenil, é porque os governantes não lhes davam a devida educação e não os puniam por essas atitudes selvagens.

A perícope mostra muito bem por que motivos aqueles rapazes foram agressores de nazismo juvenil e a extrema gravidade dessa prática. Os rapazes decidiram sentir prazer em ridicularizar um homem que não lhes parecia corresponder aos paradigmas de aparato físico e de força social e económica. Eliseu, com efeito, vivia pobremente, sem domicílio fixo, e era calvo. (Não sabemos se era mesmo calvo ou se rapara o cabelo em sinal de que era profeta.) Era o tipo de pessoa que as crianças e os jovens não consideram modelo a seguir. Mas este homenzinho aparentemente frágil, sem nenhum aparato e apelidado de maluco é que era alvo do favor divino e tinha uma missão que, vinda de Deus, tinha de ser respeitada. A atitude de tais rapazes revelava, por isso, quanto eram dominados por uma grande maldade. Eram jovens sem regras, que não eram capazes de compreender os bons conselhos e de se emendarem; pelo contrário, ridicularizariam quem os tentasse convencer a mudar. Mereciam, por isso, um castigo muito severo, ao menos para servir de exemplo para todos os que só se corrigem pelo medo.

A gravidade do nazismo juvenil consegue superar a do próprio roubo de bens materiais, pois estes ou o respetivo valor monetário, normalmente, podem ser restituídos, mas o bom nome, depois de roubado, nunca mais consegue ser restituído. A restituição de bens materiais é indispensável para obter o perdão do respetivo roubo; todavia, como é possível conseguir perdão, depois de ter roubado o bom nome de alguém, se nunca mais é possível restitui-lo?

Perguntaremos, pois, por que motivo não se realiza a justiça divina imediata, nos nossos dias? Na maior parte do Antigo Testamento, parece estar ausente a recompensa ou a condenação depois da morte. Atualmente, já que todos temos de morrer e esta vida é infinitamente curta em comparação com a eternidade, os bons sofrem nesta vida tudo o que conseguem sofrer e os maus gozam tudo o que conseguem gozar, enquanto têm tempo! Os antigos políticos não eram eleitos pelo povo, pelo que este não tinha culpa das políticas erradas. Atualmente, se a justiça divina fosse imediatamente executada em consequência das más políticas, quantos milhões de eleitores teriam de ser punidos neste mundo?

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